quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"Conheça um dos poemas de Rolando Boldrin"

Homi não chora - Rolando Boldrin
Hoje aqui, oiando pra vancê meu pai,
To me alembrando quanto tempo faz
Que pela primeira vez na vida eu chorei.
Não foi quando nasci pru que sei que vim berrando...
E disso ninguém se alembra, não.
Foi quando um dia eu caí...levei um trupicão,Eu era criança.
Me esfolei, a perna me doeu,
Quis chorá, oiei pra vancê, que esperança.
Vancê não correu pra do chão me alevanta.
Só me oiô e me falô:- Que isso, rapaz ?
Alevanta já daí...HOMI NÃO CHORA
Aquilo que vancê falô naquela hora,
Calou bem fundo, pru que vancê era o maió homi do mundo.
Não sabia menti nem pra mim nem pra ninguém..
O tempo foi passando...cresci também...Mas sempre me alembrando..
HOMI NÃO CHORA. Foi o que vancê falô.
O mundo foi me dando os solavanco,
Ia sentindo das pobreza os tranco...
Vendo as tristezas vorteá nossa famía,
E as vêiz as revorta que eu sentia era tanta
Que me vinha um nó cego na garganta,
Uma vontade de gritá... berrá, chorá... mas quá...
Tuas palavra, pai, não me saía dos ouvido...
HOMI NÃO CHORA.Intão, mesmo sentido, eu tudo engolia
E segurava as lágrima que doía...
E elas não caía, nem com tamanho de Quarqué uma dô...
Veio a guerra de 40... e eu tava lá...
um homi feito,Pronto pra defendê o Brasí.Vancê e a mãe foram me acompanhá pra despedi.
A mãe, coitada, quando me abraçô, chorô de saluçá.
Mas, nóis dois, não.Nóis só se oiêmo, se abracêmo e despedimo
Como dois Homi. Sem chorá nem um pingo.
Ah, me alembro bem... era um dia de domingo.
Também quem é que pode esquecê daquele tempo ingrato ?
Fui pra guerra, briguei, berrei feito um cachorro do mato,
A guerra é coisa que martrata...Fiquei ferido... com sodade de vancês...
escrevi carta.Sonhei, quase me desesperei, mas chora, memo que era bão
Nunca chorei...Pruque eu sempre me alembrava daquilo que meu pai falô:- HOMI NÃO CHORA.
Agora, vendo vancê aí... desse jeito... quieto...
sem fala,Inté com a barbinha rala, pru que não teve tempo de fazê..
Todo mundo im vorta, oiando e chorando pru vancê...Eu quero me alembrá... quero segurá... quero maginá Que nóis dois sempre cumbinemo de HOMI NÃO CHORÁ...
quero maginá que um dia vancê vorta pra nossa casaPobre... e nóis vai podê de novo se vê ansim, pra conversá.
Intão vem vindo um desespero, que vai tomando conta...
A dô de vê vancê ansim é tanta... é tanta, pai
Que me vorta aquele nó cego na garganta e uma lágrima Teimosa quase cai...
Óio de novo prôs seus cabelo branco... e arguém me diz
Agora pra oiá pela úrtima vez..que tá na hora de vancê
Embarcá.
Passo a minha mão na sua testa que já não tem mais pensamento...
e a dô que tô sentindo aqui dentro,
Vai omentando...omentando, quase arrebentando
Os peito...e eu não vejo outro jeito senão me descurpá.
O sinhô pediu tanto pra móde eu não chorá... HOMI NÃO CHORA... o sinhô cansô de me falá...mas, pai
Vendo o sinhô ansim indo simbora... me descurpe, mas
Tenho que chorá.



Quem sou eu? Rolando Boldrin. Ei, espie!



Rolando Boldrin nasceu em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo. Família grande, eram 12 irmãos, sendo Rolando o 7º. Ele nasceu em 1936. Começou a cantar, ao lado do irmão, na cidade de Guaira. Com 16 anos veio sozinho para a capital paulista. Fez de tudo um pouco, foi sapateiro, garçon, frentista de posto de gasolina. Aos 18 anos serviu o Exército em Quitaúna. Mas seu desejo era cantar, tocar violão e “deitar prosa”. Em 1958 apareceu nas Emissoras Associadas, depois de ter tentado as Rádios São Paulo e Record. Assinou o primeiro contrato como radiator. Fez radionovelas, mas era bonitão, ou bonitinho, pois era magrinho e então foi para a televisão. Fez: “Direito de Nascer”; “Alma Cigana”; “O Bem Amado” – primeira versão televisiva, sob a autoria de Dias Gomes e direção de Benjamim Catan. Fez “TVs de Vanguarda” e “Grandes Teatros TUPI”. Fez: “A Sereia “; “Quem Casa com Maria”; “O Direito dos Filhos”; “A Viagem”; “O Profeta “; “Roda de Fogo”; “Se o Mar Contasse”; “Ovelha Negra”. Mostrou-se um bom ator, tanto que foi chamado pela TV Record, onde apareceu em “Algemas de Ouro” ; “As Pupilas do Senhor Reitor; “Os Deuses Estão Mortos”. Quando a TV TUPI foi fechada, Rolandro Boldrin foi para a TV Bandeirantes, no ano de 1979. Ali fez: “Cara a Cara”; “Pé de Vento”, “Cavalo Amarelo”; “Os Imigrantes”. Mas foi por essa época que Boldrin ganhou nome nacional. Ele foi contratado pela Rede Globo de Televisão, onde lançou um programa em que fazia o que mais ama e sabe: tocar violão, cantar e “contar causos”. O nome do programa: “Som Brasil” – Inesquecível programa, que foi a abertura para outros programas similares. Boldrin depois lançou na Rede Bandeirantes: o “Empório Brasileiro” e no SBT, mais tarde, o “Empório Brasil”. Dono de uma musicalidade ímpar e uma enorme simpatia, Rolando Boldrin é casado com também cantora Lourdinha Pereira. Com ela e com outros parceiros já lançou na praça inúmeros discos. E ele é, de fato, o maior “contador” do Brasil. Por isso mesmo, viaja constantemente com seus shows, pois ele quer ir onde o povo está. Além disso, com seu grande coração, mantém uma atividade de benemerência uma entidade, para onde dá tudo de si, ajudando crianças necessitadas. Atualmente (2007) apresenta o programa "Sr. Brasil", na TV Cultura.

Dê uma olhada neste causo !


Moda da pinga
(Ochelsis Laureano e Raul Torres)
Com a marvada pinga que eu me atrapaio
Entro na venda já dou meu taio
Pego no copo e dalí não saio
Alí mermo eu bebo, alí mermo eu caio
Só prá carregar nunca dei trabalho
Venho da cidade, venho cantando
Com um garrafão que venho chupando
Venho pro caminho venho trupicando
Chutando os barrancos venho cambeteando
No lugar que eu caio já fico roncando
A muié me disse ela me falou
Largue de beber peço por favor
Prosa de muié nunca dei valor
Bebo com sol quente prá esfriar o calor
E bebo de noite prá fazer suador
Cada vez que eu caio caio deferente
Meaço prá traz e caio prá frente
Caio devagar, caio de repente
Vou de corropio ou diretamente
Mas sendo de pinga eu caio contente
Pego o garrafão e já balanceio
Pra mor de vê se tá mermo cheio
Num bebo de uma vez porque eu acho feio
O primeiro gole chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio
Eu bebo da pinga porque gosto dela
Bebo da branca, bebo da amarela
Bebo nos copo bebo nas tigela
Bebo temperada com cravo e canela
Seja qualquer tempo pinga na guela
Eu agora conto prá vós micê
Eu fui numa festa no rio Tietê
Lá eu fui chegando no amanhecer,já me deram pinga prá mim beber
Já me deram pinga prá mim beber,tava sem ferver
Eu bebi demais eu fiquei mamado
Eu cai no chão fiquei deitado
Todo mundo vendo eu desacordado
Prá ir prá casa fui carregado
Fui de braço dado com dois sordado
e muito obrigado

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Descubra o que é causo



“Causos”
São episódios acontecidos com contadores de estórias enfeitadas pela fantasia, sobretudo as de caçadores e pescadores famosos pelas suas patranhas. Os tropeiros, os vaqueiros e os peões de fazenda são extraordinários contadores de “causos”, nos quais se misturam elementos místicos e lendários. Via de regra, são o personagem principal, outras vezes, porém, assistiram o episódio.